quarta-feira, 2 de abril de 2014

ESTRELA DO MAR

Um homem estava caminhando ao pôr do sol em uma praia deserta. À medida que caminhava, começou a avistar outro homem a distância. Ao se aproximar do nativo, notou que ele se inclinava, apanhando algo e atirando na água. Repetidamente, continuava jogando coisas no mar. Ao se aproximar ainda mais, nosso amigo notou que o homem estava apanhando estrelas do mar que haviam sido levadas para a praia e, uma de cada vez, as estava lançando de volta à água.

Nosso amigo ficou intrigado. Aproximou-se do homem e disse:

Boa tarde, amigo. Estava tentando adivinhar o que você está fazendo. _ Estou devolvendo estas estrelas do mar ao oceano. Você sabe, a maré está baixa e todas as estrelas do mar foram trazidas para a praia. Se eu não as lançar de volta ao mar, elas morrerão por falta de oxigênio.

Entendo respondeu o homem, mas deve haver milhares de estrelas do mar nesta praia. Provavelmente você não será capaz de apanhar todas elas. É que são muitas, simplesmente. Você percebe que provavelmente isso está acontecendo em centenas de praias acima e abaixo desta costa? Vê que não fará diferença alguma?

O nativo sorriu, curvou-se, apanhou uma outra estrela do mar e, ao arremessá-la de volta ao mar, replicou:

Fez diferença para aquela.

terça-feira, 1 de abril de 2014

MAIS OU MENOS

A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...
TUDO BEM!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Chico Xavier

segunda-feira, 7 de julho de 2008

VIDA DE LUZ

Sonia Vogth Montero

No dia 28 de agosto de 1996, uma tarde chuvosa, cheguei em casa com minhas filhas Ilsen e Karina por volta das 17 horas e 30 minutos. Ao entrar na rua de minha casa percebi que algo estranho estava acontecendo devido a movimentação de alguns vizinhos na varanda de casa. Como o portão estava aberto entrei na garagem e fiquei assustada ao ver que as pessoas que ali estavam vinham ao meu encontro demonstrando euforia e grande emoção. Entre elas apareceu a Raimunda, uma vizinha que mora na casa em frente a minha. Ela se aproximou trazendo em seus braços a grande surpresa da minha vida falando a frase “toma que é teu” e colocou em meus braços um pacotinho pequeno em movimento. Ao recebê-lo percebi que se tratava de um bebê.

Durante os primeiros segundos fiquei sem reação. Quando dei por mim estava segurando um bebê aos prantos que não conhecia e, várias pessoas ao meu redor observando aquela cena. De imediato pedi uma explicação para entender o que estava acontecendo. Responderam-me naquele que o bebê em meus braços era meu, pelo fato de ter sido encontrado em minha casa. O choro dele chamou a atenção dos vizinhos.

A minha emoção foi tão grande que ao me deparar com aquela situação ria e chorava ao mesmo tempo, olhava para aquele rostinho moreno, choroso, todo molhado - devido à chuva - me enchia de grande alegria, uma emoção até hoje indescritível. Uma mistura de sentimentos que, hora me fazia acreditar que aquilo não estava acontecendo, hora me fazia enxergar que era real e me deixava confusa quanto àquela criança indefesa que precisava de mim. De uma coisa eu tinha certeza: foi uma das mais bonitas sensações que já me aconteceu, igualmente maravilhosa como a de ter visto pela primeira vez os rostinhos de Ilsen e Karina.

Após a surpresa e das etapas emocionais daquele momento logo se cai na realidade. Olhei para o meu companheiro Pitter, que havia chegado momentos antes e também em estado de choque, procurei forças e perguntei: e ai o que você acha? Ele respondeu: está decidido. Onde come um come dois. Eu topo e você? Eu não tinha palavras e respondi com um sorriso, logo beijei e abracei aquele rostinho lindo e cheiroso apertando-o contra meu peito, sentindo somente a aceleração cada vez mais forte do meu coração, enquanto eu ouvia minhas duas meninas dizendo “fica mãe, fica com ele, a gente quer um irmãozinho”.

A partir daquele momento todo mundo se mobilizou, tudo começou a mudar, as meninas eram pequenas, Ilsen 12 anos e Karina oito estavam radiantes de alegria. Começaram os telefonemas para a família e amigos comunicando o ocorrido: que tinha nascido naquele dia mais um membro da nossa família.

Os vizinhos voltavam as suas casas e chegavam com presentes tais como roupas, fraudas e mamadeiras para a situação que era emergencial. A partir daí toda a nossa vida mudou, nossos planos e os destinos de uma família de quatro pessoas começaram a ter uma direção diferente. Não eram apenas quatro e, sim, cinco os membros de uma família feliz por ter ganhado o melhor presente do mundo: o meu filho Leonardo, assim chamado pela sua irmã Ilsen que o abraçou e o beijou com muito carinho. O mesmo aconteceu com Karina que o aceitou com muita ternura e instinto protetor maternal sem querer sair nenhum instante de perto do irmãozinho que acabara de ganhar.

No outro dia todas as providências foram os primeiros cuidados médicos, dia e hora do nascimento, bem como providências da adoção junto ao juizado de menores. Os dados obtidos através do registro da unidade hospitalar onde meu filho nasceu e sua carteira de vacina constavam que o Leonardo nasceu no dia vinte e sete de agosto de 1996 às 15 horas na Maternidade Bárbara Heliodora.

No terceiro dia por volta de 18h30min, Leonardo apresentou uma febre de 39ºC, início de uma bronca-pneumonia que nos custou onze dias de hospitalização e um tratamento traumático para o nosso bebê. Isto ocorreu devido a uma infecção respiratória fruto da chuva que o bebê ficou exposto no dia em que sua genitora o deixou abandonado na varanda de nossa casa.

Após a alta hospitalar tudo voltou ao normal, todos felizes cuidando do novo membro da família. Foi exatamente nessa nova etapa de vida que tive o sentimento de amamentar meu novo filho, que mesmo não tendo sido gerado em meu ventre, sentia uma ligação muito forte que me fez acreditar que podia oferecer a esse ser tão frágil o melhor de mim. Fiz todos os exames e graças a Deus os resultados relataram que eu estava apta para tão nobre ato de carinho que uma mãe pode ter pelo seu filho.

Iniciei o tratamento com ajuda de todos profissionais da área, colegas e principalmente a família que apoiaram e me ajudaram a realizar o meu objetivo. Com o tratamento conseguir relactar e amamentei o meu filho até o quarto mês de idade, época que deixou de amamentar por está perdendo o reflexo de sucção devido a uma doença de má-formação congênita chamada esquizencefalia que provoca paralisia cerebral, microcefalia e outras conseqüências.

Quando ele tinha quatro meses de idade não sabíamos o que estava acontecendo. Após fazer vários exames e inclusive tomografia cerebral, os médicos chegaram ao diagnóstico que nos abalou profundamente.

Começa assim uma nova etapa na nossa vida que juntamente com Leonardo sofremos acompanhando cada etapa deste processo doloroso tanto para o nosso filho quanto para nós. Aos poucos ele foi perdendo os movimentos do corpo até chegar a tetraplegia e para poder sobreviver teve que se submeter a uma traqueostomia após ficar um mês na UTI, sem contar os traumas de diversas outras internações, tratamentos médicos hospitalares que nos abatiam profundamente, principalmente porque sabíamos de seu prognóstico. Os médicos afirmavam, embasados em estudos científicos, que meu filho tão amado viveria somente até os seus dois anos de idade.

Com muita paciência, perseverança, fé em Deus e muito amor, Leonardo foi vencendo as barreiras entre antibióticos, paradas cardiorespiratórias, internações e UTIs, demonstrando uma vontade imensa de viver e uma coragem inigualável de vencer. Isso nos fez enxergar que ele sim é um verdadeiro vencedor, um verdadeiro herói e muito especial para Deus, nos incluindo em seu mundo de coragem, fé e amor que um ser humano possa ter em toda sua plenitude.

Com esta lição de vida, onde a nossa família como um todo se transformou através do sofrimento, da fé e o do amor, aprendemos que plantar sementes de amor e otimismo sempre gerará frutos maravilhosos como o de ter hoje o Leonardo com onze anos de idade, dentro de sua limitação, mas vivendo com a gente. Ele, como sempre, estampando seu lindo sorriso, nos enchendo de alegria e felicidade, nos dando forças para continuar e agradecer todos os dias ao nosso Deus, Pai todo poderoso pela nossa existência.